Segurança dos criptoactivos
Hoje em dia as palavras criptoactivos ou Blockchain fazem parte do nosso quotidiano signifiquem elas o que significarem para cada um.
Faço já o meu disclaimer inicial, acredito na tecnologia Blockchain e no seu potencial para resolver alguns problemas tecnológicos que se querem independentes, sem plataformas, sem intermediários, sem governos centrais, sem intervenção humana e de fácil auditoria. Tenho no entanto imensas dúvidas sobre moedas descentralizadas como a Bitcoin que não passe de algo puramente especulativo e sem qualquer valor associado.
Este artigo serve não só para quem comprou Bitcoins a 55 mil euros em Novembro de 2021 mas também para quem compra nos 17 mil euros, porque ambos têm o mesmo problema. Onde guardar as cripto moedas durante décadas e sem qualquer preocupação de serem roubadas ou perdidas?
Mãos ao ar!
O roubo é demasiado comum nesta industria com pirataria a carteiras físicas, falências de Exchanges como a FTX, Gemini ou BlockFi e por isso sempre foi uma grande questão para mim, porque é tão fácil de comprar Bitcoins mas é tão difícil manter as mesmas em segurança?!
Diria que 95% das pessoas que conheço que comprou Bitcoins em algum momento foi puramente pelo buzz das noticias e do seu valor especulativo de mercado. No entanto desconhecem que se as tiverem no Revolut, não são efectivamente suas, que não as conseguem transferir para lado algum. Se as tiverem numa Exchange, não são efectivamente suas até serem transferidas para uma carteira externa. Desconhecem se a Binance, Coinbase abrirem falência do dia para a noite, não vão conseguir a tempo transferir as mesmas para a carteira externa e nestas 3 situações os activos digitais estarão perdidos do nosso controlo para sempre.
Existe um compromisso das plataformas que as criptomoedas estão lá caso as queiramos vender, fazer trading, stacking ou transferir para uma carteira mas não existe qualquer protecção que somos reembolsados caso a entidade vá a falência, ao contrário do que acontece num banco onde estamos protegidos até 100 mil euros.
A vida é feita de ciclos
Há 70 anos os nossos avós eram conhecidos por guardarem o dinheiro debaixo do colchão da cama pois tinham dificuldade a aceder aos bancos devido à geografia das aldeias ou porque simplesmente não confiavam nos mesmos. 50 anos depois, o ciclo repete-se e aqui estamos nós com acesso a entidades bancárias na ponta dos dedos, com a possibilidade de fazer pagamentos e transferências entre utilizadores em segundos mas voltamos a esconder recursos financeiros “debaixo do colchão moderno”.
80% das pessoas vão perder ao longo dos anos os seus cripto ativos, seja através do roubo, de incêndios, perda das passphrases ou até morte porque a nossa parceira pode não conseguir resgatar o dinheiro. O problema não é manter isto em segurança durante meses ou anos mas sim durante décadas e décadas e que possa passar para a próxima geração.
Soluções prácticas, existem?
Não me vou alongar nas diversas soluções para guardar as moedas digitais porque isso será um artigo só por si. No mercado existem algumas soluções para todos os gostos, para todas as carteiras e mais ou menos práticas. A questão é sempre, até onde queremos ir para sentir que estamos a manter o nosso património seguro?!
É um mundo onde temos quase de ser paranoicos com a segurança e com o roubo, porque sem as 12 a 24 passphrases perdemos o acesso às nossas carteiras com o nosso dinheiro.
Devemos investir em hot wallets, que custam em média 50€ o que já por isso é um investimento inicial considerável para quem quer só experimentar e brincar às criptomoedas. Onde é que vamos esconder as pens? Cada pen fica com qual moeda? Metemos todas as moedas juntas ou diversificamos o risco? E em relação às passphrases metemos em sítios físicos diferentes? Passphrases escondidas em paredes de casa? Cofres no armário da roupa? placas de alumínio gravadas à prova de fogo? Parece quase um jogo para algumas pessoas, ter vários locais com as palavras e que tudo junto dá acesso ao “Cofre Sagrado”.
São demasiadas questões, demasiadas preocupações, parece que estamos a esconder um fardo de droga em casa.
O único conselho que dou é, tenham as moedas na vossa posse e não em terceiros ou plataformas externas. Para quem quer transferir os criptoactivos das Exchanges é começar com pequenas quantias até perceberem como funciona a tecnologia, como se transfere moedas entre carteiras, perceber as taxas escondidas, quanto tempo demora a transferência ou seja entender todo o fluxo porque é sempre algo sensível de correr mal. No banco se fizermos uma transferência para o NIB errado, sempre conseguimos reverter indo ao mesmo enquanto no mundo de cripto se colocarmos mal um número da carteira, caput…fizemos outro alguém muito f€liz.
Adopção pela sociedade
Quem comprou cripto pelo hype no topo dos 60 mil euros, ou tem as mesmas na Exchange ou transferiu para uma cold wallet (Por exemplo aplicação de telefone como a Exodus) tendo as 12 palavras aleatórias apontadas num papel algures numa gaveta. Qual é a probabilidade daqui a 10 anos esse papel já se ter perdido, rasgado ou simplesmente as letras já se terem desvanecido?! 90% destes utilizadores vão perder as moedas ou quando perceberem que não as conseguem transferir do Revolut, vão pagar taxas para vender e ainda vender em perda.
Acho que é unanime que não é concebível para tornar isto mainstream, que não passa meramente por aumentar a educação digital mas sim aparecer uma tecnologia revolucionária de mais fácil uso no dia a dia e por todo o espectro da sociedade.
Pode ser que os problemas que descrevi mudem no futuro, mas tenho as minhas dúvidas que existam desenvolvimentos tecnológicos nos próximos 5 anos e que isto dos cripto activos nunca passe de um nicho da sociedade. A única coisa que sei é que daqui a 20 anos mais de 70% terá perdido as suas moedas e os seus investimentos.
Para rematar este artigo, gostava de voltar a sublinhar um dos slogans mais repetidos na indústria e que nunca deve ser esquecido “Not your keys, not your coins.”
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